1.12.10

Os barões

foto publicitária do filme "400 contra 1", sobre o início da facção Comando Vermelho


Vão aqui trechos do texto " Os barões ", de Olavo de Carvalho. Íntegra aqui


"Um leitor pede, gentilmente, que eu lhe diga quem, afinal, são os tão falados e jamais nomeados "barões da droga". Quem ganha com o crescimento ilimitado das quadrilhas de narcotraficantes e sua transformação em força revolucionária organizada, ideologicamente fanatizada, adestrada em táticas de guerrilha urbana, capacitada a enfrentar com vantagem as forças policiais e não raro as militares?
A resposta é simplicíssima: quem ganha com o tráfico de drogas é quem produz e vende drogas. O maior, se não o único fornecedor de drogas ao mercado brasileiro são as Farc, Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. São elas, também, que dão adestramento militar e assistência técnica ao Comando Vermelho, ao PCC e a outras quadrilhas locais.
Já faz dez anos que o então principal traficante brasileiro, Fernandinho Beira-Mar, preso na Colômbia, descreveu em detalhes a operação em que trocava armas contrabandeadas do Líbano por duas toneladas anuais de cocaína das Farc. Também faz dez anos que uma investigação da Polícia Federal chegou à seguinte conclusão: 'A guerrilha tem o comando das drogas'"
(...)São esses os barões. Não há outros. A parceria deles com o narcotráfico vem de longe. Começou na Ilha Grande, nos idos de 70, quando terroristas presos começaram a doutrinar os bandidos comuns e a ensinar-lhes os rudimentos da guerrilha urbana, segundo o manual de Carlos Marighela. Naquela época, os guerrilheiros e a liderança esquerdista em geral tinham um complexo de inferioridade: viam-se como uma elite isolada, sem raízes nem ressonância no "povo", em cujo nome falavam com um sorriso amarelo.
Por feliz coincidência, foram parar na cadeia numa época em que o filósofo germano-americano Herbert Marcuse lhes dera uma idéia genial: a faixa de população mais sensível à pregação revolucionária não eram os trabalhadores, como pretendia Karl Marx, e sim os marginais - ladrões, assassinos, narcotraficantes. Que parassem de pregar nas fábricas e buscassem audiência no submundo - tal era o caminho do sucesso. Quando as portas do cárcere se fecharam às suas costas, abriram-se para eles as portas da mais doce esperança: lá estava, no pátio da prisão, o tão ambicionado "povo". Sua função no esquema? Transmutar o reduzido círculo de guerrilheiros em movimento armado das massas revolucionárias.
Em 1991, o projeto, em formato definitivo, já vinha exposto com toda a clareza no livro Quatrocentos Contra Um, do líder do Comando Vermelho, William da Silva Lima, publicado pela Labortexto e lançado ao público na sede da Associação Brasileira da Imprensa, entre aplausos de mandarins da intelectualidade esquerdista que ali viam materializados seus sonhos mais belos de justiça e caridade.
Mais que materializados, ampliados: "Conseguimos o que a guerrilha não conseguiu: o apoio da população carente. Vou aos morros e vejo crianças com disposição, fumando e vendendo baseado. Futuramente, elas serão três milhões de adolescentes, que matarão vocês nas esquinas." Todo o descalabro sangrento que hoje aterroriza a população do Rio de Janeiro não é senão a efetivação do plano aí esboçado com a ajuda dos mesmos luminares do esquerdismo que hoje pontificam sobre "segurança pública".
(...) A criação do Foro de São Paulo, iniciativa daqueles terroristas aposentados, facilitou os contatos entre agentes das Farc e as quadrilhas de narcotraficantes brasileiros - especialmente do PCC -, dos quais logo se tornaram mentores, estrategistas e sócios. Foi o que demonstrou o juiz federal Odilon de Oliveira, de Ponta Porã, MS, pagando por essa ousadia o preço de ter de viver escondido, como de fosse ele próprio o maior dos delinquentes, enquanto os homens das Farc transitam livremente pelo país, têm toda a proteção da militância esquerdista em caso de prisão e até são recebidos como hóspedes de honra por altos próceres petistas.
Mas também é claro que, entre esses dois momentos, os apóstolos da sociedade justa não ficaram parados: fizeram leis que dificultam a ação da polícia (o governador carioca Leonel Brizola chegou a bloqueá-la por completo), espalharam por toda a sociedade a noção de que os bandidos são vítimas e, a pretexto de combater o crime por meio de uma "política de inclusão", construíram nos redutos da bandidagem obras de infraestrutura que tornam a vida dos criminosos mais confortável e sua ação mais eficiente.
No meio de tanta atividade meritória, ainda tiveram tempo de estreitar os laços tático-estratégicos entre as quadrilhas de delinquentes e a militância política, articulando, nas reuniões do Foro de São Paulo, a colaboração entre as Farc e o MST, que hoje recebe da guerrilha colombiana o mesmo adestramento em técnicas de guerrilha que começou a ser transmitido aos presos da Ilha Grande nos anos 70.
Falar em "ligações" da esquerda com o crime é eufemismo. O que há é a unidade completa, a integração perfeita, uma das mais formidáveis obras de engenharia revolucionária de todos os tempos. Não espanta que empreendimento de tal envergadura tenha a seu dispor, entre os "formadores de opinião", um número até excessivo de colaboradores incumbidos de negar a sua existência. "

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