30.12.10

Podcast do Olavo de Carvalho 29/12/10

Grandes discursos: Ronald Reagan - Tempo de Escolha (27/10/1964)


Reagan : Obrigado. Muito Obrigado. Obrigado e boa noite. O patrocinador foi identificado, mas ao contrário da maioria dos programas de televisão, não foi providenciado um script para o artista. Na verdade, foi permitido que eu escolhesse as minhas próprias palavras e discutir minhas próprias ideias sobre a escolha que enfrentaremos nas próximas poucas semanas.


Passei a maior parte da minha vida como um Democrata. Recentemente, senti a necessidade de seguir outro rumo. Eu acredito que as questões que nos confrontam ultrapassam as linhas partidárias. Agora, um lado dessa campanha está nos dizendo que as questões desta eleição são a manutenção da paz e da prosperidade. A frase vem sendo utilizada, "Nós nunca estivemos tão bem".

Mas eu tenho uma sensação incômoda de que essa prosperidade não é algo em que possamos basear as nossas esperanças para o futuro. Nenhuma nação na história jamais sobreviveu a uma carga tributária que atingiu um terço da renda nacional. Hoje, de cada dólar ganho neste país 37 centavos são da fatia do Leão, e, ainda assim, o nosso governo continua a gastar 17 milhões de dólares por dia a mais do que arrecada. Nós não temos o nosso orçamento equilibrado em 28 dos últimos 34 anos. Nós aumentamos nosso limite da dívida em três vezes nos últimos 12 meses, e agora a nossa dívida nacional é uma vez e meia maior do que todas as dívidas combinadas de todas as nações do mundo. Nós temos 15 bilhões de dólares em ouro em nosso tesouro; não somos donos de nenhum grama. Nossa dívida externa em dólares é de 27,3 bilhões de dólares. E nós acabamos de anunciar que o dólar de 1939 vai agora comprar 45 centavos de dólar de seu valor total.

Em relação à paz que queremos preservar, eu me pergunto quem de nós gostaria de abordar a esposa ou o marido ou a mãe cujo filho morreu no Vietnã do Sul e lhes perguntar se acham que essa é uma paz que deve ser mantida indefinidamente. Eles querem dizer paz, ou só querem ser deixados em paz? Não pode haver paz real, enquanto um norte-americano está morrendo em algum lugar do mundo por nossa causa. Estamos em guerra com o inimigo mais perigoso que a humanidade já enfrentou em sua longa escalada do pântano até as estrelas, e é dito que se nós perdermos a guerra, e ao fazê-lo perdermos essa nossa forma de liberdade, a história registrará com a maior surpresa que aqueles que tinham mais a perder foram os que menos fizeram para evitar sua ocorrência. Bem, eu acho que é hora de nos perguntarmos se ainda sabemos as liberdades que nos foram destinadas pelos Pais Fundadores.

Não muito tempo atrás, dois amigos meus estavam conversando com um refugiado cubano, um empresário que tinha escapado de Castro, e no meio da sua história um dos meus amigos se virou para o outro e disse: "Nós não sabemos a sorte que temos." E o cubano parou e disse: "A sorte que vocês têm? Eu tinha um lugar para onde fugir." E nessa frase ele nos contou toda a história. Se perdemos a liberdade aqui, não há nenhum lugar para onde fugir. Este é o último lugar na Terra.

E essa ideia de que o governo está em dívida com o povo, que não tem outra fonte de poder, exceto o povo soberano, é ainda a ideia mais original e mais nova de toda a longa história da relação do homem com o homem.

Este é o tema desta eleição: se acreditamos em nossa capacidade de auto-governo, ou se nós abandonamos a revolução americana e confessamos que uma pequena elite intelectual em um capital muito distante pode planejar nossas vidas para nós melhor do que nós podemos planejá-la nós mesmos.
Cada vez mais nos é dito que temos que escolher entre esquerda ou direita. Bem, eu gostaria de sugerir que não há tal coisa como direita ou esquerda. Há apenas um acima ou abaixo: [acima] o antigo sonho, o ultimato em liberdade individual de acordo com a lei e a ordem; ou abaixo até o formigueiro do totalitarismo. E, independentemente da sinceridade deles, de suas motivações humanitárias, aqueles que teriam trocado nossa liberdade por segurança têm enveredado por este caminho descendente.

Nesta época de colheita de votos, eles usam termos como "a Grande Sociedade" (Great Society), ou como nos foi dito há poucos dias pelo Presidente, temos de aceitar uma maior atividade do governo nos assuntos do povo. Mas eles foram um pouco mais explícitos no passado e entre si; e todas as coisas que eu citarei agora apareceram na imprensa. Estas não são acusações republicanas. Por exemplo, eles têm vozes que dizem: "A guerra fria vai acabar com a nossa aceitação de um socialismo não democrático." Outra voz diz: "A motivação pelo lucro tornou-se obsoleta. Ele deve ser substituído pelos incentivos do Estado de Bem-estar social". Ou, "Nosso sistema tradicional de liberdade individual é incapaz de resolver os problemas complexos do século 20." O Senador Fulbright, na Universidade de Stanford, disse que a Constituição é ultrapassada. Ele se referiu ao presidente como "o nosso professor de moral e nosso líder", e diz que é "prejudicado na sua missão pelas restrições ao poder que lhe são impostas por este documento antiquado." Ele deve ser "libertado", de modo que ele "possa fazer por nós" o que ele sabe "ser melhor." E o senador Clark da Pensilvânia, outro porta-voz articulado, define o liberalismo como "satisfazer as necessidades materiais das massas através do poder do governo central."

objetivo. Eles também sabiam, os Pais Fundadores, que fora de suas funções legítimas, o governo não faz nada tão bem ou de maneira tão econômica como o setor privado da economia.

Agora, não temos melhor exemplo disso do que o envolvimento do governo na economia agrícola nos últimos 30 anos. Desde 1955, o custo desse programa praticamente dobrou. Um quarto da atividade agrícola nos Estados Unidos é responsável por 85% do excedente de produção. Três quartos da agricultura estão no livre mercado e conheceram um aumento de 21% no consumo per capita de todos os seus produtos. Vejam que um quarto da agricultura - que é regulada e controlada pelo governo federal. Nos últimos três anos nós gastamos 43 dólares no programa de cereais para alimentação para cada dólar de alqueire de milho que não produzimos.

O senador Humphrey semana passada acusou Barry Goldwater de, como presidente, pretender eliminar os agricultores. Ele deveria fazer seu dever de casa um pouco melhor, porque vai descobrir que tivemos uma queda de 5 milhões na população rural no âmbito desses programas do governo. Ele também vai descobrir que a administração democrata tem procurado obter do Congresso [um] a extensão do programa agrícola para incluir os três quartos que agora estão livres. Ele vai descobrir que eles também pediram o direito de aprisionar os agricultores que não mantivessem livros caixa, conforme prescrito pelo governo federal. O secretário da Agricultura pediu o direito de confiscar fazendas pela condenação, e revendê-las a outros indivíduos. E contida no mesmo programa estava uma medida que teria permitido ao governo federal remover 2 milhões de agricultores do solo.

Ao mesmo tempo, tem havido um aumento no número de funcionários do Departamento de Agricultura. Há agora um para cada 30 fazendas nos Estados Unidos, e ainda não podem nos dizer como 66 carregamentos de grãos com destino a Áustria desapareceram sem deixar rasto e Billie Sol Estes nunca deixou a costa.

Cada agricultor responsável e organização agrícola tem repetidamente pedido ao governo para liberar a economia agrícola, mas como - quem são os produtores para saber o que é melhor para eles? Os produtores de trigo votaram contra um programa de trigo. O governo o aprovou mesmo assim. Agora o preço do pão sobe; o preço do trigo ao produtor cai.

Enquanto isso, lá na cidade, no âmbito da renovação urbana o ataque à liberdade continua. Direitos de propriedade privada [estão] tão diluídos que o interesse público é quase tudo o que poucos planejadores do governo decidirem que deva ser. Em um programa que tira das pessoas carentes e dá aos gananciosos, vemos espetáculos como em Cleveland, Ohio, um prédio de um milhão e meio dólares concluído há apenas três anos deve ser destruído para dar lugar ao que funcionários do governo chamam de "uso mais compatível da terra." O presidente nos disse que ele agora vai iniciar a construção de unidades habitacionais públicas na casa dos milhares, enquanto até agora nós só as construíamos na casa das centenas. Mas a FHA [Federal Housing Authority - Autoridade Federal de Habitação] e a Administração dos Veteranos nos dizem que têm 120 mil unidades habitacionais que tomaram de volta através da execução hipotecária. Por três décadas, temos procurado resolver os problemas do desemprego por meio do planejamento do governo, e quanto mais os planos falham, mais os planejadores planejam. O mais recente é a Agência de Redesenvolvimento de Áreas.

Eles acabaram de declarar que o condado de Rice, no Kansas, é uma área deprimida. O Condado de Rice, no Kansas, tem duzentos poços de petróleo, e as 14.000 pessoas de lá têm mais de 30 milhões de dólares em depósito na poupança pessoal nos seus bancos. E quando o governo diz que você está deprimido, deite e fique deprimido.

Nós temos tantas pessoas que não podem ver um homem gordo de pé ao lado de um magro sem chegar à conclusão de que o homem gordo só ficou assim, aproveitando-se do magro. Então eles vão resolver todos os problemas da miséria humana através do governo e do planejamento do governo. Bem, agora, se o planejamento de governo e a Previdência tivessem a resposta - e tiveram quase 30 anos dela - não deveríamos esperar que o governo lesse o placar para nós de vez em quando? Eles não deveriam estar nos dizendo sobre a diminuição a cada ano do número de pessoas precisando de ajuda? A redução da necessidade de habitação pública?
Mas o inverso é verdadeiro. A cada ano a necessidade cresce cada vez mais; o programa cresce mais. Fomos informados que há quatro anos atrás, 17 milhões de pessoas iam para a cama com fome todas as noites. Bem, isso provavelmente era verdade. Eles estavam todos em uma dieta. Mas agora estamos sendo informados de que 9,3 milhões de famílias nesse país são atingidas pela pobreza, tendo como base um ganho menor que 3.000 dólares por ano. Gastos sociais [são] 10 vezes maiores do que nas escuras profundezas da Depressão. Estamos gastando 45 bilhões de dólares em gastos sociais. Agora, façamos um pouco de aritmética, e você verá que se dividirmos 45 bilhões de dólares igualmente entre as 9 milhões de famílias pobres, seríamos capazes de dar para cada família 4,6 mil dólares por ano. E isso somado à sua renda atual eliminaria a pobreza. A ajuda direta aos pobres, no entanto, chega apenas a cerca de 600 dólares por família. Parece que em algum lugar deve haver alguma sobrecarga.

Agora - então agora nós declaramos " guerra contra a pobreza ", ou "Você também, pode ser um Bobby Baker." Agora, eles honestamente esperam que nós acreditemos que, se somarmos 1 bilhão de dólares aos 45 bilhões que estamos gastando, mais um programa aos cerca de 30 que já temos - e lembre-se, esse novo programa não substitui nenhum, apenas duplica programas já existentes - eles acreditam que a pobreza irá, de repente, desaparecer num passe de mágica? Bem, com toda a justiça, devo explicar que há uma parte do novo programa que não é duplicada. É a questão da juventude. Agora resolveremos o problema do abandono escolar, da delinquência juvenil através da reintrodução de algo parecido com os antigos campos CCC[Corporações de Conservação Civill] e vamos colocar os nossos jovens nesses campos. Mas, novamente, façamos um pouco de aritmética e descobriremos que vamos gastar a cada ano, só em casa e comida para cada jovem que ajudarmos, 4.700 dólares. Podemos enviá-los para Harvard por 2700! Naturalmente, não me interpretem mal. Não estou sugerindo que Harvard seja a resposta para a delinquência juvenil.
Mas, falando sério, o que estamos fazendo para aqueles que procuram ajuda? Não muito tempo atrás, um juiz me chamou aqui em Los Angeles. Ele me falou de uma jovem que tinha o procurado para pedir um divórcio. Ela teve seis filhos, estava grávida de seu sétimo. Sob o seu interrogatório, ela revelou que o seu marido era um trabalhador que ganhava 250 dólares por mês. Ela queria o divórcio para obter um aumento de 80 dólares. Ela é elegível para receber 330 dólares por mês no programa de Auxílio às Crianças Dependentes. Ela teve a ideia de duas mulheres em seu bairro, que já haviam feito essa mesma coisa.
No entanto, quando você e eu questionamos os esquemas dos benfeitores, somos denunciados como sendo contra os seus objetivos humanitários. Eles dizem que somos sempre "contra" as coisas - nós nunca somos "a favor" de qualquer coisa.
Bem, o problema com os nossos amigos liberais não é que eles sejam ignorantes; só que eles sabem de muita coisa que não é verdade.
Agora - nós somos a favor de uma proteção para que a destituição não siga o desemprego em razão da idade avançada, e para isso nós aceitamos a Previdência Social como um passo em direção à resolução do problema.

Mas nós somos contra aqueles a quem foi confiado esse programa quando praticam o ludibrio a respeito dos seus problemas fiscais, quando afirmam que qualquer crítica ao programa significa que queiramos acabar com os pagamentos às pessoas que dele dependem para seu sustento. Eles o tem chamado de "seguro" em uma centena de milhão de obras literárias. Mas então eles compareceram diante da Suprema corta e testemunharam que era um programa social. Eles só usam o termo "seguro" para vendê-lo ao povo. E disseram que as tarifas da Previdência Social são um imposto para o uso geral do governo, e o governo tem usado esse imposto. Não há nenhum fundo, porque Robert Byers, diretor atuarial, compareceu perante uma comissão do Congresso e admitiu que a Previdência Social nesse momento está 298 bilhões de dólares no buraco. Mas ele disse que não há motivo para preocupação, porque enquanto tiverem o poder de tributar, sempre poderão tirar do povo o que for necessário para socorrê-los dos problemas. E eles estão fazendo exatamente isso.
Um jovem de 21 anos de idade, recebendo um salário médio - a sua contribuição previdenciária que, no mercado aberto, compraria uma apólice de seguro que garantiria 220 dólares por mês aos 65 anos. O governo promete 127. Ele poderia viver sem seguro até completar 31 anos e, em seguida, contratar uma apólice que pagaria mais do que a Previdência Social. Agora estamos tão carentes de sentido para os negócios que não podemos colocar esse programa em uma base razoável para que as pessoas que precisam desses pagamentos descubram que não irão recebê-los quando devidos- que o armário não está cheio?

Barry Goldwater acha que podemos.

Ao mesmo tempo, não poderíamos introduzir características que permitiriam um cidadão que pode fazer melhor por conta própria ser dispensado mediante a apresentação de provas de que ele havia feito provisão para os anos que não irá ganhar? Não deveríamos permitir que uma viúva com filhos trabalhasse, sem que perdesse os benefícios supostamente pagos por seu falecido marido? Não deveria nos ser autorizado declarar quem nossos beneficiários desse programa serão, o que não é permitido hoje? Acho que somos a favor de dizer aos nossos cidadãos idosos que a ninguém nesse país deveria ser negado cuidados médicos devido à falta de recursos. Mas eu acho que nós somos contra obrigar todos os cidadãos, independentemente da necessidade, a participar de um programa governamental obrigatório, especialmente quando temos exemplos, como anunciado na semana passada, quando a França admitiu que o seu programa Medicare está falido. Eles chegaram ao fim da estrada.

Além disso, Barry Goldwater foi tão irresponsável quando sugeriu que o governo desista de seu programa de inflação, deliberadamente planejada, de modo que quando você receber a sua pensão da Previdência Social, um dólar comprará um dólar, e não 45 centavos?

Acho que somos a favor de uma organização internacional, onde as nações do mundo podem buscar a paz. Mas eu acho que nós somos contra subordinar os interesses americanos a uma organização que se tornou tão estruturalmente inadequadas, que hoje é possível reunir uma maioria de dois terços do plenário da Assembléia Geral entre as nações que representam menos de 10 por cento da população do mundo. Acho que nós somos contra a hipocrisia de agredir os nossos aliados, porque aqui e ali, eles se agarram a uma colônia, enquanto nos envolvemos em uma conspiração de silêncio e nunca mais abrimos a boca para falar sobre os milhões de pessoas escravizadas nas colônias soviéticas nos países satélites.
Acho que somos a favor de ajudar os nossos aliados, partilhando das nossas bênçãos materiais com as nações que compartilham nossas crenças fundamentais, mas nós somos contra a distribuição de dinheiro de governo para governo, gerando burocracia, se não socialismo, em todo o mundo. Partimos para ajudar 19 países. Nós estamos ajudando 107. Gastamos146 bilhões de dólares. Com esse dinheiro, compramos um iate de 2 milhões de dólares para Haile Selassie. Nós compramos ternos para empresários gregos, esposas extras para oficias do governo do Quênia. Compramos aparelhos de TV para um lugar onde não há eletricidade. Nos últimos seis anos, 52 países compraram 7 bilhões de dólares do nosso ouro, e todos os 52 estão recebendo ajuda externa desse país.
Nenhum governo nunca voluntariamente se reduz de tamanho. Assim, os programas dos governos, uma vez lançados, nunca desaparecerão.
Na verdade, uma agência do governo é a coisa mais próxima da vida eterna que veremos nessa terra.

Funcionários públicos federais - são dois milhões e meio de funcionários federais; e nas esferas federal, estadual e municipal, um de cada seis trabalhadores do país são empregados pelo governo. Esses férteis departamentos com seus milhares de regulamentos nos custaram muitas das nossas garantias constitucionais. Quantos de nós sabemos que hoje os agentes federais podem invadir a propriedade de um homem sem um mandado? Eles podem aplicar uma multa sem uma audiência formal, muito menos sem um julgamento por um júri? E eles podem se apossar de suas propriedades e leiloá-las para forçar o pagamento da multa. No Condado de Chico, no Arkansas, James Wier plantou mais arroz do que sua cota. O governo obteve uma sentença que o multou em 17 mil dólares. E um funcionários do governo dos EUA vendeu sua fazenda de 960 acres em um leilão. O governo disse que era necessário, como um aviso para os outros para fazer o sistema funcionar.
Em 19 de fevereiro passado, na Universidade de Minnesota, Norman Thomas, seis vezes candidato a presidente na chapa do Partido Socialista, disse: "Se Barry Goldwater se tornar presidente, ele iria interromper o avanço do socialismo nos Estados Unidos." Eu acho que é exatamente isso o que ele vai fazer.

Mas, como um ex-democrata, posso lhes dizer Norman Thomas não é o único homem que traçou esse paralelo entre o socialismo e a atual administração, porque em 1936, o Sr. Democrata, Al Smith, o grande americano, veio ante o povo americano e denunciou que a liderança de seu partido estava levando o partido de Jefferson, Jackson, e Cleveland no caminho das bandeiras de Marx, Lênin e Stalin. E ele se afastou de seu partido, e nunca mais voltou até o dia que morreu - porque nos dias de hoje, a liderança daquele partido o tem levado, aquele honrável partido, no mesmo caminho do Partido Socialista da Inglaterra.

Agora não se exige a expropriação ou confisco da propriedade privada ou de negócios para impor o socialismo em um povo. O que significa quer você tenha a escritura - ou o título do seu negócio ou propriedade, se o governo detém o poder de vida e morte sobre esse negócio ou propriedade? E esse maquinário já existe. O governo pode encontrar alguma acusação para trazer abaixo qualquer interesse que escolher para processar. Cada empresário tem seu próprio conto de assédio. Em algum lugar uma perversão aconteceu. Nossos direitos naturais e inalienáveis são consideradas um prolongamento do governo, e a liberdade nunca foi tão frágil, tão perto de escapar das nossas mãos, como nesse momento.

Nossos adversários democratas não parecem dispostos a debater essas questões. Eles querem fazer com que vocês acreditem que esta é uma disputa entre dois homens - que estamos a escolher apenas entre duas personalidades.

Bem, e o que acontecerá com esse homem que eles querem destruir - e na destruição, destruiriam o que ele representa, as ideias que vocês e eu compartilhamos com carinho? Ele é o homem impetuoso, superficial e rápido no gatilho que dizem que ele é? Bem, eu tive o privilégio de conhecê-lo "quando". Eu o conheci muito antes que ele sonhasse em concorrer ao cargo mais alto, e posso lhes dizer pessoalmente que eu nunca tinha conhecido um homem na minha vida que eu acreditava ser incapaz de fazer algo desonesto ou desonroso.

Esse é um homem que, em seu próprio negócio, antes de entrar para a política, instituiu um plano de participação nos lucros antes de os sindicatos cogitarem isso. Ele ofereceu plano de saúde para todos os seus empregados. Ele retirou 50 por cento dos lucros antes dos impostos e criou um programa de aposentadoria, um plano de pensões para todos os seus empregados. Ele enviou cheques mensais por toda a vida para um funcionário que estava doente e não podia trabalhar. Ele providenciou creches para todos os filhos de mães que trabalham nas lojas. Quando o México foi devastado pelas enchentes no Rio Grande, ele subiu no seu avião e levou remédios e suprimentos para lá.

Um ex-soldado me contou como ele o conheceu. Foi uma semana antes do Natal, durante a Guerra da Coréia, e ele estava no aeroporto de Los Angeles tentando conseguir uma carona para o Arizona. E ele disse que [havia] um monte de militares lá e não havia lugares disponíveis no avião. E então veio uma voz pelo alto-falante e disse: "Qualquer homem de uniforme querendo uma carona para o Arizona, vá para a pista tal e tal", e eles foram lá, e lá estava um sujeito chamado Barry Goldwater, sentado no seu avião . Todos os dias naquelas semanas antes do Natal, durante todo o dia, ele carregava o avião, voava para o Arizona, levava-os para suas casas, voava de volta para pegar outra carga.

Durante o calendário agitado de uma campanha, esse é um homem que tirou um tempo para se sentar ao lado de um velha amiga que estava morrendo de câncer. Seus gerentes de campanha foram compreensivelmente impacientes, mas ele disse: "Não restam muitos que se preocupam com o que acontece com ela. Eu gostaria que ela soubesse que eu me importo." Esse é um homem que disse a seu filho de 19 anos de idade, "não há fundamento como a rocha da honestidade e da justiça, e quando você começar a construir sua vida sobre essa rocha, com o cimento da fé em Deus que você tem, então você tem um verdadeiro começo. " Esse não é um homem que enviaria os filhos de outras pessoas para a guerra sem preocupações. E esse é o problema desta campanha que torna todos os outros problemas que temos discutido acadêmicos, a menos que percebamos que estamos em uma guerra que precisa ser vencida.

Aqueles que trocariam nossa liberdade pela sopa dos programas sociais nos disseram que têm uma solução utópica de paz sem vitória. Eles chamam a sua política de "acomodação". E dizem que nós só temos que evitar qualquer confronto direto com o inimigo, que ele esquecerá seus maus caminhos e aprenderá a nos amar. Todos os que se opõem a eles são indiciados como belicistas. Eles dizem que oferecemos respostas simples para problemas complexos. Bem, talvez haja uma resposta simples - não uma resposta fácil - mas simples: Se você e eu temos a coragem de dizer aos nossos oficiais eleitos que queremos que a nossa política nacional seja feita com base no que sabemos em nosso coração ser moralmente correto.

Não podemos comprar a nossa segurança e nossa liberdade sob a ameaça de uma bomba e cometer uma imoralidade tão grande como dizer a um bilhão de seres humanos agora escravizados por trás da Cortina de Ferro, "desistam de seus sonhos de liberdade, porque para salvar nossa própria pele, nós estamos dispostos a fazer um acordo com seus mestres. " Alexander Hamilton disse: "Uma nação que prefere desgraça ao perigo está preparada para um mestre, e merece um". Agora vamos acertar os pontos. Não há nenhuma discussão sobre a escolha entre a paz e a guerra, mas só há uma maneira garantida de se ter paz - e você pode tê-la na próximo segundo - a rendição.

É certo que há um risco em qualquer curso que seguirmos além desse, mas cada lição da história nos diz que o maior risco reside na conciliação, e esse é o espectro que nossos bem-intencionados amigos liberais se recusam a encarar - que a política de acomodação deles é o apaziguamento, e não dá nenhuma escolha entre a paz e a guerra, apenas entre lutar ou render-se. Se continuarmos a nos acomodar, a recuar e bater em retirada, eventualmente nós teremos que encarar a demanda final - o ultimato. E então - quando Nikita Khrushchev disse ao seu povo que sabe o que a nossa resposta vai ser? Ele lhes disse que estamos recuando sob a pressão da Guerra Fria, e, um dia, quando chegar a hora de entregar o ultimato final, nossa rendição será voluntária, pois, quando chegar a hora, nós teremos sido enfraquecidos por dentro, espiritualmente, moralmente e economicamente. Ele acredita nisso porque do nosso lado ouviu vozes pedindo "paz a qualquer preço" ou "melhor vermelho que morto", ou como disse um comentarista, ele preferiria "viver de joelhos do que morrer de pé." E é aí que reside o caminho para a guerra, porque essas vozes não falam pelo resto de nós.

Você e eu sabemos e não acreditamos que a vida seja tão querida e tão doce que a paz possa ser comprada ao preço de correntes e escravidão. Se por nada na vida vale a pena morrer, quando isso começou - apenas em face desse inimigo? Ou Moisés deveria ter dito aos filhos de Israel para viver em escravidão sob os faraós? Cristo deveria ter recusado a cruz? Deveriam os patriotas em Concord Bridge ter jogado as suas armas e se recusado a disparar o tiro ouvido ao redor do mundo? Os mártires da história não foram tolos, e os nossos honrados mortos que deram suas vidas para impedir o avanço do nazismo não morreram em vão. Onde, então, é o caminho para a paz? Bem, é uma resposta simples, afinal.
Você e eu temos a coragem de dizer aos nossos inimigos: "Há um preço que não vamos pagar." "Há um ponto além do qual eles não podem avançar." E este - este é o significado da frase de Barry Goldwater "paz através da força." Winston Churchill disse: "O destino do homem não é medido por cálculos materiais. Quando grandes forças estão em movimento no mundo, nós aprendemos que nós somos espíritos - ...não animais". E ele disse: "Há algo acontecendo no tempo e no espaço, e além do tempo e do espaço, que, gostemos ou não, se chama dever."
Vocês e eu temos um encontro com o destino.

Vamos preservar para nossos filhos isso, a última esperança do homem na Terra, ou vamos sentenciá-los a dar o último passo em mil anos de trevas.
Vamos ter em mente e lembrar que Barry Goldwater tem fé em nós. Ele tem fé que vocês e eu temos a capacidade, a dignidade e o direito de tomar nossas próprias decisões e determinar nosso próprio destino.

Muito Obrigado.

A Ética das Emergências

Ayn Rand

Os resultados psicológicos do altruísmo podem ser observados no fato de que um grande número de pessoas aborda o tema da ética, fazendo perguntas tais como:

"Alguém deveria arriscar sua vida para ajudar um homem que está: a) se afogando, b), preso em um incêndio, c) passando na frente de um caminhão em alta velocidade, d) pendurado por suas unhas sobre um abismo?"

Considere as implicações de tal abordagem. Se um homem aceita a ética da

altruísmo, ele sofre as conseqüências a seguir (em proporção ao grau de sua aceitação):



1. Falta de auto-estima - já que a sua primeira preocupação na esfera de valores é

não como viver sua vida, mas como sacrificá-la.
2. Falta de respeito pelos outros - pois ele considera a humanidade como um rebanho de mendigos condenados a chorar pela ajuda de alguém.
3. Uma visão pesadelo de existência - pois ele acredita que os homens estão presos em um "universo malévolo", onde os desastres são constantes e a principal preocupação de suas vidas.
4. E, de fato, uma indiferença letárgica para com a ética, uma cínica e sem esperança amoralidade - já que suas perguntas envolvem situações que provavelmente nunca encontrará, que não têm relação com os problemas reais da sua própria vida e, assim, deixando-o viver sem princípios morais quaisquer que sejam.


Ao elevar a questão de ajudar os outros à questão central e primária da ética, o altruísmo destruiu o conceito de qualquer benevolência, fé ou boa vontade entre os homens. Ele tem doutrinado os homens com a ideia de que valorizar outro ser humano é um ato de desprendimento, o que implica que um homem não pode ter nenhum interesse pessoal nos outros - que valorizar alguém significa sacrificar a si mesmo - que qualquer amor, respeito ou admiração que um homem pode sentir por outro não é e não pode ser uma fonte de seu próprio prazer, mas sim uma ameaça à sua existência, um cheque em branco assinado de sacrifício para seus entes queridos.


Os homens que aceitam essa dicotomia, mas escolhem o seu outro lado, os produtos finais dessa influência desumanizante do altruísmo, são os psicopatas que não desafiam a premissa básica do altruísmo, mas proclamam a sua revolta contra o auto-sacrifício, anunciando que eles são totalmente indiferentes a qualquer coisa viva e não levantariam um dedo para ajudar um homem ou um cão deixado mutilado por um motorista que fugiu de um acidente (que normalmente é um de sua própria espécie).



A maioria dos homens não aceita ou pratica nenhum lado da maliciosa falsa dicotomia do altruísmo, mas seu resultado é o total caos intelectual sobre a questão das relações humanas adequadas, tais como a natureza, finalidade ou extensão da ajuda que alguém possa dar aos outros. Hoje, um grande número de homens bem intencionados e razoáveis não sabe como identificar ou conceituar os princípios morais que motivam a sua afeição, amor e boa vontade e não consegue encontrar nenhuma orientação no campo da ética, que é dominada pelos chavões obsoletos do altruísmo.


Quanto à questão de por que o homem não é um animal de sacrifício e de por que ajudar os outros não é seu dever moral, leiam Atlas Shrugged. Esta presente discussão tem o objetivo de estabelecer os princípios pelos quais alguém identifica e avalia as ocorrências envolvendo ajuda não-sacrificial de um homem a outros.


"Sacrifício" é a entrega de um valor maior em troca de um menor ou de um não valor. Assim, o altruísmo mede a virtude de um homem pelo grau pelo qual ele se rende, renuncia ou trai seus valores (uma vez que a ajuda a um desconhecido ou a um inimigo é considerada mais virtuosa, menos "egoísta", que a ajuda àqueles que ama). O princípio racional da conduta é exatamente o oposto: sempre agir de acordo com a hierarquia de seus valores, e nunca sacrificar um valor maior por um menor.



Isso se aplica a todas as escolhas, incluindo as ações de um para com os outros homens. Isso exige que se possua uma hierarquia bem definida de valores racionais (valores escolhidos e validados por um padrão racional). Sem essa hierarquia, nem conduta racional nem os considerados juízos de valor nem as escolhas morais são possíveis.


O amor e a amizade são valores profundamente pessoais e egoístas: o amor é uma a expressão e uma afirmação da auto-estima, uma resposta a seus próprios valores encontrados em outra pessoa. Alguém ganha uma alegria profundamente pessoal e egoísta pela mera existência de uma pessoa que ama. É a própria felicidade  pessoal e egoísta que se procura, ganha-se, e se deriva do amor.
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Um amor "altruísta" e "desinteressado" é uma contradição em termos: isso significa que se é indiferente ao que se valoriza.


A preocupação com o bem-estar daqueles que se ama é uma parte racional de nossos interesses egoístas. Se um homem que é apaixonado por sua esposa gasta uma fortuna para curá-la de uma doença perigosa, seria absurdo afirmar que ele age como se fosse um "sacrifício" por causa dela, não dele próprio, e que não faz diferença para ele, pessoalmente e egoisticamente, se ela vive ou morre.


Qualquer ação a que um homem se compromete em benefício daqueles que ama não é um sacrifício, se, na hierarquia de seus valores, no âmbito total das opções abertas a ele, atinge-se aquilo que é de maior importância pessoal (e racional) para ele. No exemplo acima, a sobrevivência de sua esposa é de maior valor para o marido do que qualquer outra coisa que o dinheiro possa comprar, é de maior importância para a sua própria felicidade e, portanto, sua ação não é um 



Mas suponha que ele a deixe morrer, a fim de gastar seu dinheiro para salvar a vida de dez mulheres, nenhuma das quais significa algo para ele - como a ética do altruísmo exigiria. Isso seria um sacrifício. Aqui a diferença entre Objetivismo e altruísmo pode ser vista mais claramente: se o sacrifício é o princípio moral da ação, então o marido deveria sacrificar a sua esposa por causa das outras dez mulheres. O que distingue a sua mulher das outras dez? Nada além do valor dela para o marido que tem que fazer a escolha- nada além do fato de que sua felicidade requer a sobrevivência dela.


A ética objetivista lhe diria: o seu maior objetivo moral é a realização de sua própria felicidade, o dinheiro é seu, use-o para salvar a sua esposa, este é o seu direito moral e sua escolha racional e moral.



Considere a alma do moralista altruísta que estaria disposto a dizer ao marido o oposto. (E então se pergunte se o altruísmo é motivadas pela benevolência.)



O método adequado de julgar se ou quando alguém deve ajudar outra pessoa é tendo como referência o seu próprio interesse racional e a sua própria hierarquia de valores: o tempo, dinheiro ou esforço a ser oferecido ou os riscos a serem corridos devem ser proporcionais ao valor da pessoa em relação a sua própria felicidade.



Para ilustrar isso num dos exemplos favoritos dos altruístas: a questão do salvamento de uma pessoa que está se afogando. Se a pessoa a ser salva é um estranho, é moralmente correto salvá-la somente quando o perigo para a própria vida é mínimo; quando o perigo é grande, seria imoral tentar fazê-lo: apenas uma falta de auto-estima poderia permitir a alguém dar mais valor para a vida de um estranho aleatório do que à própria vida. (E, inversamente, se a pessoa está se afogando, não pode esperar de um estranho que arrisque sua vida por causa dela, lembrando que a vida de outra pessoa não pode ser tão valiosa para ele quanto a sua própria.)


Se a pessoa a ser salva não é um estranho, então o risco que se está disposto a correr é maior na proporção da grandeza do valor dessa pessoa para si mesmo. Se ele é o homem ou a mulher que se ama, então pode-se estar disposto a dar a própria vida para salvá-la, pela razão egoísta de que a vida sem a pessoa amada pode ser insuportável.



Inversamente, se um homem é capaz de nadar e salvar a sua esposa que está se afogando, mas entra em pânico, e cede a um medo irracional e injustificado e a deixa se afogar e, então, segue sua vida em solidão e miséria - alguém não o chamaria de "egoísta"; alguém poderia condená-lo moralmente por sua traição a si mesmo e aos seus próprios valores, isto é: sua incapacidade de lutar pela preservação de um valor fundamental para sua própria felicidade. Lembre-se que os valores são aquilo que alguém age para ganhar e/ou manter, e que a própria felicidade deve ser alcançada pelo esforço próprio de cada um. Uma vez que a própria felicidade é a finalidade moral da vida, o homem que não consegue alcançá-la por causa de suas próprias falhas, por causa da sua incapacidade de lutar por ela, é moralmente culpado.



A virtude envolvida em ajudar aqueles que se ama não é o "altruísmo" ou o "sacrifício", mas a integridade. A integridade é a lealdade para com suas convicções e valores; é a política de agir de acordo com os seus valores, de expressar, defender e traduzi-los em realidade prática. Se um homem professa amor a uma mulher, mas suas ações são indiferentes, hostis ou prejudiciais a ela, é a sua falta de integridade que faz dele imoral.


O mesmo princípio se aplica às relações entre amigos. Se um amigo está em apuros, deve-se agir para ajudá-lo por qualquer meio "não-sacrificial" apropriado. Por exemplo, se um amigo está morrendo de fome, não é um sacrifício, mas um ato de integridade, dar-lhe dinheiro para comprar comida em vez de comprar alguma engenhoca insignificante para si mesmo, porque o bem-estar do seu amigo é importante na escala dos seus valores pessoais. Se a engenhoca significa mais do que o sofrimento do amigo, não tinha que ter fingido ser amigo dele.


A aplicação prática da amizade, carinho e amor consiste em incorporar o bem-estar (bem-estar racional) da pessoa envolvida à sua própria hierarquia de valores e, então, agir em conformidade.


Mas essa é uma recompensa que os homens tem que conquistar por meio das suas virtudes e que não se pode conceder a simples conhecidos ou estranhos.


O que, então, deve ser uma concessão adequada a estranhos? O respeito geral e boa vontade que se deve conceder a um ser humano em nome do valor potencial que ele representa - a não ser ou até que ele os perca.

Um homem racional não deve se esquecer de que a vida é a fonte de todos os valores e, como tal, um elo comum entre os seres vivos (em oposição à matéria inanimada), que outros homens são potencialmente capazes de alcançar as mesmas virtudes que as suas próprias e, portanto, ser de enorme valor para ele. Isso não significa que ele considera a vida humana como intercambiável com a sua própria. Ele reconhece o fato de que a sua própria vida é a fonte, não só de todos os seus valores, mas também de sua capacidade de valorizar.

Portanto, o valor que ele concede aos outros é apenas uma conseqüência, uma extensão, uma projeção secundária do valor primário, que é ele mesmo.

"O respeito e boa vontade que os homens de auto-estima sentem em relação a outros seres humanos é profundamente egoísta; eles sentem, com efeito: 'Outros homens são de valor porque eles são da minha mesma espécie.' Ao reverenciar entidades vivas, estão reverenciando sua própria vida. Esta é a base psicológica de qualquer emoção de simpatia e de qualquer sentimento de "solidariedade intraespécie.'" (Nathaniel Branden, "Benevolência versus Altruísmo:" O Boletim Objetivista, julho de 1962.)

Uma vez que os homens nascem tabula rasa, tanto cognitivamente como moralmente, um homem racional considera estranhos como inocentes até prova em contrário, e lhes concede aquela boa vontade inicial em nome do seu potencial humano. Depois disso, ele os julga de acordo com o caráter moral que têm demonstrado. Se ele os considera culpados de males maiores, a sua boa vontade é substituída pelo desprezo e condenação moral. (Se alguém valoriza a vida humana, não pode valorizar seus destruidores.) Se os considerar virtuosos, concede-lhes o valor e apreciação pessoal e individual, na proporção de suas virtudes.


É no terreno dessa boa vontade generalizada e respeito pelo valor da vida humana que alguém ajuda um desconhecido em uma emergência, e apenas em um emergência.



É importante distinguir entre as regras de conduta em uma situação de emergência e as regras de conduta em condições normais da existência humana. Isso não significa um duplo padrão de moralidade: o padrão e os princípios básicos permanecem os mesmos, mas a sua aplicação a ambos os casos, requer definições precisas.



Uma emergência é um evento não escolhido e inesperado, limitado no tempo, que cria condições sob as quais é impossível a sobrevivência humana - como uma inundação, um terremoto, um incêndio, um naufrágio. Numa situação de emergência, o objetivo principal dos homens é combater o desastre, escapar do perigo e restaurar as condições normais (chegar a terra firme, apagar o fogo, etc.).

Por condições "normais", quero dizer, metafisicamente normais, normais na natureza das coisas, e adequadas à existência humana. Os homens podem viver na terra, mas não em água ou em um fogo abrasador. Já que os homens não são onipotentes, é metafisicamente possível que catástrofes imprevisíveis os ataquem. Nesse caso, a sua única tarefa é retornar àquelas condições em que suas vidas podem continuar. Por sua natureza, uma situação de emergência é temporária, se fosse duradoura, os homens pereceriam.


É somente em situações de emergência que se deve voluntariar para ajudar estranhos, se for algo dentro de sua capacidade. Por exemplo, um homem que valoriza a vida humana e é pego em um naufrágio, deve ajudar a salvar seus companheiros (embora não à custa da sua própria vida). Mas isso não significa que, após a chegada de todos à costa, ele deva dedicar seus esforços para salvar seus companheiros passageiros da pobreza, ignorância, neurose ou qualquer outros problemas que possam ter. Também não significa que ele deve passar a vida navegando os sete mares em busca de vítimas de naufrágio para salvar.


Ou para dar um exemplo que pode ocorrer na vida cotidiana: suponha que se fique sabendo que o vizinho está doente e sem dinheiro. Doença e pobreza não são emergências metafísicas, fazem parte dos riscos normais da existência; mas uma vez que o homem está temporariamente impotente, pode-se trazer-lhe comida e remédios, se puder pagar por isso (como um ato de boa vontade, não de dever) ou se pode levantar um fundo entre os vizinhos para ajudá-lo. Mas isso não significa que se deva apoiá-lo daí então, nem que se deva passar a vida procurando homens famintos para ajudar.

Em condições normais de existência, o homem tem que escolher seus objetivos, o projetá-los no tempo, persegui-los e alcançá-los por seu próprio esforço. Ele não pode fazer isso se seus objetivos estão à mercê de ou devam ser sacrificados em nome de qualquer infortúnio que esteja acontecendo com os outros. Ele não pode viver sua vida, guiando-se por regras aplicáveis apenas às condições sob as quais a sobrevivência humana é impossível.


O princípio de que se deve ajudar os homens em situações de emergência não pode ser alargado para incluir todo o sofrimento humano como uma emergência e para transformar a infelicidade de alguns em uma hipoteca sobre a vida dos outros.

Pobreza, ignorância, doença e outros problemas desse tipo não são emergências metafísicas. Pela natureza metafísica do homem e da existência, o homem tem de manter sua vida por seu próprio esforço; os valores que ele necessita - tais como a riqueza ou conhecimento - não são dados a ele automaticamente, como uma dádiva da natureza, mas tem que ser descobertos e alcançados por seus próprios pensamentos e trabalho. A única obrigação de um homem em relação aos outros, nesse contexto, é manter um sistema social que permita aos homens liberdade para conquistar, ganhar e manter seus valores.

Todo código de ética tem como base e é derivado de uma metafísica, isto é: a partir de uma teoria sobre a natureza fundamental do universo em que o homem vive e age. A ética altruísta é baseado em uma metafísica de um "universo malévolo", na teoria de que o homem, por sua própria natureza, é impotente e condenado - que sucesso, felicidade, realização são impossíveis para ele - que emergências, desastres, catástrofes são a norma da sua vida e que seu principal objetivo é combatê-los.



Como a mais simples refutação empírica dessa metafísica - como evidência do fato de que o universo material não é prejudicial ao homem e que catástrofes são a exceção, não a regra da sua existência - vejam as fortunas feitas pelas companhias de seguros.



Observe também que os defensores do altruísmo são incapazes de basear sua ética sobre quaisquer fatos da existência normal dos homens e que eles sempre oferecem situações "de vida ou morte" como exemplos a partir da qual derivam as regras de conduta moral. ("O que você deve fazer se você e outro homem estão em uma embarcação que pode transportar apenas um? ", etc.)



O fato é que os homens não vivem em botes salva-vidas e que um barco salva-vidas não é o lugar no qual se deva basear uma metafísica.

A finalidade moral da vida de um homem é a realização de sua própria felicidade. Isso não significa que ele é indiferente a todos os homens, que a vida dos seres humanos não tem nenhum valor para ele e que ele não tem razão para ajudar os outros em uma emergência. Mas isso significa que ele não deve subordinar sua vida ao bem-estar dos outros, que não deve se sacrificar pelas necessidades dos outros, que o alívio do sofrimento dos outros não seja sua preocupação principal, que qualquer ajuda que ele der é uma exceção, não uma regra, um ato de generosidade, não de dever moral, que é marginal e incidental - como desastres são marginais e incidentais no curso da existência humana - e que valores, não desastres, sejam o objetivo, a preocupação principal e a força motriz de sua vida.


 (Fevereiro 1963)

Íntegra aqui

29.12.10

Medical Markets Can’t Work?

Trecho do texto "Mercados em medicina não podem funcionar?" de Theodore Levy. Íntegra aqui.



"Alguns dizem que a saúde é diferente, e se por isso eles querem dizer que o mercado de saúde tem sido artificialmente restringido, segmentado, regulado e distorcido por intervenções governamentais que datam mais de um século, eles estão certos. Somente as indústrias educacionais e financeiras se aproximam do grau de regulamentação do governo, o que não fala bem do sucesso da regulamentação. Mas se eles querem dizer que assistência médica é mais complicada do que qualquer coisa oferecida no mercado ou que as preocupações de saúde não respondem a oferta e a procura, ou que os serviços médicos só podem ser fornecidos quando carteis da saúde batalham contra os contribuintes governo, enquanto os pacientes são isolados dos verdadeiros custos do atendimento...simplesmente não é assim."

Riqueza, Pobreza e Desastres Naturais

Texto do James Peron, presidente da Laissez Faire Books e editor da revista Laissez Faire!. Íntegra aqui.



Riqueza, Pobreza e Desastres Naturais 

Prosperidade salva vidas. 


O terremoto no Haiti atingiu magnitude de 7.0. Segundo a Wikipedia , o terremoto de Loma Prieta em 1989 em São Francisco atingiu magnitude de 7,0 ou 6,9, dependendo de qual é a escala utilizada. Em outras palavras, as intensidades foram bastante semelhantes. O Haiti é devastado. Se o New York Times estiver correto, o número de mortos pode ser de dezenas de milhares. O número de mortos no terremoto de 1989 foi 63, se você incluir as mortes indiretas. 

A diferença é a riqueza. San Francisco é uma das áreas mais ricas em nossa parte do mundo, enquanto o Haiti é a mais pobre. A pobreza faz com que as catástrofes naturais sejam piores. A riqueza as atenua. Você poderia pensar que aqueles que se preocupam com os pobres do mundo promoveriam políticas que aumentassem a riqueza. Em vez disso, eles aprovam as políticas que restringem a criação de riqueza e o fazem intencionalmente, sabendo que vão restringi-la 

A Fundação Heinrich Böll, uma filial do Partido Verde alemão, publicou um relatório sobre as áreas ricas, como São Francisco, como sendo habitadas por "sobre-consumidores”-"over consumers". Por outro lado, aqueles que habitavam áreas pobres como o Haiti eram chamados de "sub-consumidores”-"under consumers". Mas isso é um equívoco, uma vez que o autores do relatório também deixam claro que, no seu paraíso ideal de planejamento central, os "sub-consumidores” não deveriam alcançar os “sobre-consumidores”. Eles apontam que, em nome da igualdade, os "sobre-consumidores" deveriam ter suas riquezas distrubuídas. Eles muito explicitamente atacam aqueles que tentam ajudar a desenvolver as nações mais pobres do mundo, porque essas pessoas "trabalham para aumentar o piso - ao invés de diminuir ou modificar o teto .... A redução da pobreza, em outras palavras, não pode ser separada da redução da riqueza ". 

A verdade é que as pessoas ricas podem suportar os piores encargos que a Mãe Natureza jogar sobre nós. Eu sei que os Verdes querem que todos vivam em sintonia com a natureza, mas a Mãe Natureza não tem sentimentos, nem compaixão e ficaria muito feliz em transformá-lo em adubo. Condenem o materialismo e a riqueza o quanto quiserem, mas eles salvam vidas. Claro, se você odeia os humanos, então você não vai se importar. Mas quaisquer problemas cujas causas são atribuídas à criação de riqueza, eles empalidecem em comparação com os problemas que acompanham a pobreza. 

O terremoto no Haiti infligiu morte maciça porque a pobreza aumenta o mal que vem com as catástrofes naturais. O terremoto de São Francisco levou a poucas mortes, mesmo com uma magnitude semelhante, porque a área é produtiva e rica. E, muitas das mortes que aconteceram foram por causa das políticas equivocadas do governo. Por exemplo, o colapso da Freeway Cypress, que matou 42, construída pelo Estado em um aterro sanitário que tenderia a se liquefazer durante um terremoto. Essa liquefação, combinada com o fracasso do Estado em reforçar as falhas conhecidas na estrada, conduziu diretamente para o colapso e as mortes. 

Da mesma forma, a outra grande concentração de destruição foi no Distrito de Marina de São Francisco. O distrito de Marina foi o local da Exposição Internacional Panamá-Pacífico em 1915, que foi construído pela prefeitura em áreas de lama e zonas úmidas. Após o término da exposição, a cidade, em seguida, vendeu a propriedade para empreendedores para a construção de habitações. Foi lá que sete prédios desabaram e 63 ficaram danificados tão severamente que tiveram de ser demolidos. Quatro morreram no distrito de Marina. 
O desastre em Nova Orleans foi um exemplo similar. Quando os diques mantidos pelo governo falharam durante o furacão Katrina, a cidade foi inundada. As pessoas que sofreram foram os pobres, especialmente os pobres que dependiam de transporte de massa do governo para evacuá-los. Aqueles em melhor situação fugiram em seus carros. Mas uma grande percentagem de cidadãos não possuía automóveis. Randal O'Toole escreveu: 


"Ouvimos dizer que 60 por cento dos moradores de Nova Orleans eram negros, mas tem sido pouco notado que um terço das famílias negras não possuem um carro - nem 15 por cento das famílias brancas. Foram essas pessoas que ficaram para trás quando as pessoas com carros evacuaram " 


O'Toole observa que nos anos anteriores, quando a riqueza era menor no país, as taxas de mortalidade relacionadas a furacões eram maiores. Quando Galveston foi atingida por um furacão em 1900, as pessoas não conseguiram escapar a tempo porque não existiam automóveis. Agora, mesmo as grandes cidades podem ser evacuadas antes que um furacão a atinja porque as pessoas têm carros. Mesmo o transporte público funciona melhor para evacuar as pessoas quando mais pessoas possuem carros, uma vez que é utilizado para evacuar um número muito maior de pessoas. 

Políticas que destroem a criação de riqueza hoje significam um amanhã mais pobre do mundo, e a pobreza - não a riqueza – agrava os desastres.

28.12.10

Existe um direito à assistência médica?

Reflexão mais aprofundada sobre o tema de assistência médica como direito, já introduzido nesse espaço pelo texto do Dr. Leonard Peikoff (Saúde não é um direito)

O discurso transcrito abaixo foi proferido em várias palestras ministradas entre 1993 e 1994 pelo filósofo David Kelley, Ph.D em filosofia pela Universidade de Princeton e professor de ciências cognitivas e filosofia na Faculdade Vassar e Universidade Brandeis. Íntegra aqui.

Existe um direito à assistência médica?
Bill Clinton concorreu à presidência no ano passado, atacando a década de 80 como uma "década da ganância" - atacando as compras alavancadas e aquisições hostis projetadas por financistas de Wall Street. Acontece que eu acho que esta tendência na década de 1980 foi uma coisa boa, um realinhamento produtivo nos negócios americanos. Mas, seja como for, a ironia é que o presidente Clinton propõe agora uma aquisição hostil por conta própria, uma aquisição hostil em uma escala muito além de qualquer coisa que os capitalistas de Wall Street sonharam, uma aquisição hostil de um sétimo da economia do país . Estou me referindo, claro, ao seu plano anunciado recentemente para a "reforma" da assistência médica.

O plano de Clinton, em sua forma atual, envolve um grande exercício de coerção contra os médicos, empregadores e pacientes. A maioria das pessoas será forçada a fazer negócios por meio de cooperativas de compras de planos de saúde: monopólios apoiados pelo governo, que receberão pagamentos dos consumidores e definirão os termos em que os provedores podem oferecer seus serviços. Todos serão obrigados a comprar planos de saúde através destes monopólios, com os empregadores obrigados a pagar a parte da conta do projeto referente ao "leão". Os médicos, hospitais e empresas de plano de saúde serão proibidos de lidar diretamente com os pacientes, pois serão obrigados a oferecer os seus serviços através das cooperativas de compras, sujeitas a regras muito restritivas.

O que nos trouxe ao presente estado das coisas? O socialismo ruiu na União Soviética. As nações da Europa Ocidental estão tentando trazer de volta seus estados de bem-estar social, desesperadamente à procura de formas de privatização. Ainda assim, nesse país, estamos à beira de um grande aumento nos subsídios e controles do governo. Por quê?

A história completa é longa e complicada, mas a causa essencial, penso eu, é simples. A causa fundamental é a suposição de que se as pessoas têm necessidades de assistência médica que não estão sendo satisfeitas, é responsabilidade da sociedade atendê-las. No atual debate sobre a reforma da assistência médica, o acesso universal tornou-se o objetivo inquestionável, pelo qual todas as outras considerações podem ser sacrificadas. A suposição é que as necessidades dos beneficiários têm precedência sobre os direitos dos médicos, hospitais, seguradoras e companhias farmacêuticas - os provedores de assistência médica, as pessoas que entregam a mercadoria-, assim como sobre os direitos dos contribuintes, que terão de pagar a conta. Em outras palavras, aqueles com capacidade para prestar assistência médica são obrigados a servir, enquanto aqueles com necessidade de serem atendidos têm o direito de fazer exigências.

Na verdade, muitas vezes é dito que a necessidade de assistência médica constitui um direito. O presidente Clinton fez campanha com o slogan "assistência médica deve ser um direito, não um privilégio". Pesquisas de opinião mostram regularmente que a crença em tal direito é generalizada, mesmo dentro da profissão médica. A "Declaração dos Direitos dos Pacientes" da Associação Médica Americana inclui a afirmação de que os pacientes têm "direito à assistência médica essencial".

Se a assistência médica é um direito, então o governo é responsável por fazer com que todos tenham acesso a ela, assim como o direito de propriedade significa que o governo deve nos proteger contra roubo. Nos últimos 30 anos, a ideia de que as pessoas têm direito à assistência médica levou a um controle governamental cada vez maior sobre a profissão médica e a indústria de assistência à saúde. As necessidades dos indigentes, as necessidades dos não-segurados, as necessidades dos idosos, entre outros grupos, foram apresentadas como reivindicações sobre os recursos públicos. O governo tem respondido subsidiando esses grupos e regulando os médicos, seguradoras e companhias farmacêuticas em nome dessas necessidades. Agora, o governo Clinton propõe tornar esse direito universal, para tornar o seu exercício também universal, e expandir grandemente o controle governamental.

Neste contexto, posso afirmar minha opinião em uma frase: não existe tal direito. Eu vou mostrar por que a tentativa de implementar esse pretenso direito, na prática, leva à suspensão do direito real de médicos, pacientes e do público em geral. E vou mostrar por que o conceito de tal direito é corrupto na teoria. Quero salientar, em primeiro lugar, a importância dessa questão. A direção de longo prazo da política pública não é definida pela política eleitoral, ou por negociatas no Congresso, ou por este ou aquele tribunal. No longo prazo, em um nível básico, a política pública é definida por ideias - ideias sobre o que é justo e digno, os direitos e obrigações que temos como indivíduos. A ideia de que as pessoas têm direito a assistência médica é prejudicial para as nossas liberdades genuínas. As políticas que fluem a partir dessa ideia são prejudiciais para os interesses dos médicos e pacientes. Para lutar contra estas políticas, temos de atacar a sua raiz.

Liberdade vs. Direitos sociais

Vamos começar definindo nossos termos. Um direito é um princípio que especifica algo que o indivíduo deve ser livre para ter ou fazer. Um direito é algo que você possui de maneira livre e clara, algo que você pode exercer sem pedir permissão a ninguém. Como é um direito, não um privilégio ou favor, nós não devemos a ninguém qualquer gratidão pelo reconhecimento de nossos direitos.


A finalidade dos direitos de liberdade é proteger a autonomia individual. Eles deixam os indivíduos responsáveis por suas próprias vidas, para satisfazer suas próprias necessidades. Mas eles nos fornecem as condições sociais que precisamos para realizar essa responsabilidade: a liberdade de agir com base no nosso próprio julgamento, em busca de nossos próprios fins, e o direito de usar e dispor dos recursos materiais que adquirimos com nossos esforços. Estes direitos partem do pressuposto de que os indivíduos são fins em si mesmos, que não podem ser utilizados contra a sua vontade para fins sociais.
Vamos considerar o que os direitos de liberdade significam em relação à assistência médica. Se nós os implementarmos integralmente, os pacientes estariam livres para escolher o tipo de atendimento que quiserem, assim como os prestadores de assistência médica privados que desejarem, de acordo com suas necessidades e recursos. Eles seriam livres para escolher se querem ou não o seguro de saúde, e, em caso afirmativo, em que quantidade. Médicos e outros provedores ficariam livres para oferecer os seus serviços com base nas modalidades que escolherem. Preços não seriam regulados por decreto do governo, mas pela concorrência em um mercado. Uma vez que este é um estado imaginário de coisas, ninguém pode prever qual a combinação de médicos autônomos, planos de saúde, e outros tipos de planos de saúde iriam surgir. Mas as forças do mercado tenderiam a assegurar que os pacientes tivessem mais opções do que agora, que eles iriam agir com mais responsabilidade do que muitos fazem no presente, e que eles iriam pagar um preço atuarialmente justo por um plano de saúde - preços que reflitam os riscos reais associados à sua idade, condição física, e estilo de vida. Ninguém seria capaz de colocar os seus gastos na conta de outra pessoa. Em um mercado verdadeiramente livre, devo acrescentar, não haveria benefícios fiscais para a obtenção de seguro de saúde através dos empregadores, de modo que a maioria das pessoas provavelmente iria comprar um plano de saúde da mesma maneira que compram seguro de vida, seguro do automóvel, seguro da propriedade - diretamente das companhias de seguros. Eles não teriam a temer que, ao perder ou mudar de emprego, isso significaria a perda de sua cobertura. 


Então é isso que os direitos de liberdade - os direitos clássicos à vida, à liberdade e à propriedade- significam na prática. O chamado "direito" à assistência médica é muito diferente. Não é apenas o direito de agir, ou seja, procurar assistência médica e participar de intercâmbios com os fornecedores, sem a interferência de terceiros. É um direito a um bem: o cuidado real, independentemente de se é possível pagar por isso. O alegado direito à assistência médica é um exemplo de uma categoria mais ampla conhecida como direitos sociais. Direitos sociais, em geral, são direitos a bens: por exemplo, o direito à alimentação, moradia, educação, emprego, etc. Essa é uma diferença fundamental entre os direitos de liberdade, que asseguram a liberdade de ação, mas não garantem sucesso na obtenção de determinado bem que se está procurando.

Uma outra diferença tem a ver com as obrigações impostas às outras pessoas. Todo direito impõe algumas obrigações aos outros. Direitos de liberdade impõem obrigações negativas: a obrigação de não interferir com a liberdade do outro. Esses direitos são garantidos por leis que proíbem o assassinato, roubo, estupro, fraude e outros crimes. Mas os direitos sociais impõem aos outros a obrigação positiva de fornecer os bens em questão. 
Assistência médica não cresce em árvores ou cai do céu. A afirmação de um direito à assistência médica não garante que haverá qualquer assistência para distribuir. Os partidários desses direitos exigem, com ar de retidão moral, que todos tenham acesso a esse bem. Mas a demanda não cria nada. A assistência médica tem de ser produzida por alguém, e paga por alguém. Um dos principais argumentos oferecidos pelos partidários de um direito à assistência médica é que a saúde é uma necessidade essencial. De que valem as nossas outras liberdades, eles perguntam, se não podemos conseguir tratamento médico para as doenças? Mas devemos perguntar, em contrapartida: por que a necessidade dá a alguém um direito? Cinquenta anos atrás, as pessoas com insuficiência renal precisavam de diálise tanto quanto precisam hoje, mas não havia máquinas de diálise. Será que eles tinham direito à proteção contra insuficiência renal? A Mãe Natureza estava violando seus direitos ao levar seus rins à falência sem solução? Não faz sentido dizer que necessidade confere um direito a não ser que alguém tenha a capacidade de atender a essa necessidade. Assim, qualquer "direito" à assistência médica impõe a alguém a obrigação de prestar assistência àqueles que não podem fornecê-la para si. 
Se eu tenho esse direito, alguma outra pessoa ou grupo tem a involuntária, e não escolhida, obrigação de satisfazê-lo. Enfatizo a palavra "involuntária". Se eu tenho um direito à assistência médica, então eu tenho direito ao tempo, ao esforço, à habilidade, à riqueza de quem vai ser obrigado a prestar esses cuidados. Em outras palavras, eu sou proprietário de uma parte dos contribuintes que me subsidiam. Eu sou proprietário de um parte dos médicos que me atendem. A noção de um direito à assistência médica vai muito além de qualquer noção de caridade. Um médico que renuncia a seu pagamento porque sou indigente, está oferecendo um presente gratuito; ele mantém a sua autonomia, e lhe devo gratidão. Mas se eu tenho direito ao atendimento, então ele está apenas cumprindo seu dever, e eu não lhe devo nada. Se os outros são forçados a me servir em nome do meu direito à assistência, então eles estão sendo usados, independentemente de sua vontade, como um meio para atender o meu bem-estar. Estou enfatizando esse ponto porque muitas pessoas não compreendem que o próprio conceito de direitos sociais, incluindo o direito à saúde, é incompatível com a visão dos indivíduos como fins em si mesmos. 
Eu poderia acrescentar que a diferença entre caridade e direitos é muito bem compreendida pelos defensores do direito à assistência médica. Um de seus principais argumentos para a utilização da linguagem dos direitos é que ele elimina o estigma associado à caridade. Um direito é algo por que você não deve gratidão a ninguém. Mas note a contradição. A razão para propor tal direito, em primeiro lugar, é a alegação de que certas pessoas não podem sustentar a si mesmas, e são, portanto, dependentes de outras pessoas para cuidar de sua saúde. Os defensores do direito à assistência médica insistem em usar o conceito de direitos para disfarçar o fato da dependência, para permitir que os beneficiários de subsídios governamentais finjam que estão recebendo alguma coisa que conquistaram. 
É importante notar também que a Suprema Corte nunca reconheceu a base constitucional para qualquer direito social, incluindo o direito à assistência médica. O Tribunal reconhece que o conceito de direitos consagrados em nosso ordenamento jurídico é o conceito de direitos de liberdade. Direitos sociais são um produto de movimentos posteriores para expandir o papel do governo para além da sua concepção original. Em nosso sistema constitucional, não há exigência de que o governo federal preste assistência à saúde. Direitos à assistência médica, ao contrário dos direitos fundamentais, como a liberdade de expressão, têm que ser inventados pelos legisladores. 

Efeitos de um direito à assistência médica 

Infelizmente, nossos legisladores têm se equiparado à altura do desafio. Eles inventaram esses direitos sem questionamentos e acima de qualquer dúvida. E isso me leva ao próximo ponto. Quando o governo tenta implementar o direito à assistência médica, o resultado será a revogação dos direitos de liberdade. Tal como acontece com o dinheiro, direitos ruins expulsam os bons. Vamos rever as principais consequências da implementação de um direito à assistência médica. Vou usar exemplos relacionados a nossa situação atual, mas essas conseqüências acontecerão, inevitavelmente, a partir de qualquer abordagem: pagador único, competição regulada, ou qualquer outra.

1) Para começar, é claro, o governo tem de taxar algumas pessoas para pagar os subsídios oferecidos aos que considera ser necessitados. Assim, a primeira conseqüência da aplicação de um "direito" à assistência médica é forçar a transferência de riqueza dos contribuintes para a clientela de programas como o Medicare e Medicaid. E isso vai aumentar a demanda por serviços de saúde. Oferecer atendimento gratuito ou fortemente subsidiado vai aumentar inevitavelmente o uso do sistema de saúde.

Os números dos primeiros anos do programa Medicaid indicam o grande aumento na demanda que pode resultar. Segundo um estudo do Instituo Brookings, em 1964, antes do Medicaid entrar em vigor, aqueles acima da linha da pobreza foram atendidos por médicos com cerca de 20 por cento mais frequência do que os pobres; em 1975, os pobres receberam atendimento médico com frequência 18 por cento maior do que os não pobres. Mais uma vez, antes de Medicaid, aqueles com baixa renda foram submetidos a apenas metade dos procedimentos cirúrgicos daqueles com renda de classe média; em 1970, a taxa para pessoas de baixa renda foi 40% maior do que para aqueles com renda de classe média. Quando Medicare foi instituído em 1966, a Comissão de Orçamento do Congresso estimava que, até 1990, considerando a inflação do período, o programa custaria US$ 12 bilhões; o valor real era de 107 bilhões de dólares (previsões dos custos dos programas de benefícios feitas pelo governo nunca são exatas. Em muitos casos, como esse, eles não tem nem mesmo a ordem de grandeza correta). 
2) A explosão dos custos leva à segunda consequência importante da implementação de um "direito" à assistência médica: as restrições à liberdade dos prestadores de assistência à saúde. Durante o debate sobre a política de saúde na década de 1960, os defensores do Medicare e do Medicaid garantiam aos médicos que só pagariam pela assistência aos indigentes e não tinham a intenção de regulamentar a profissão. Abraham Ribicoff, o então secretário de Saúde, Educação e Segurança Social, disse: "Não deve ser objeto de preocupação nenhuma dos médicos a origem do dinheiro do paciente".

Mas é claro que o aumento da procura de assistência médica levou a um rápido aumento de preços, juntamente com os abusos do sistema por clientes dos programas de governo, bem como por médicos e hospitais inescrupulosos. Estes problemas têm de ser abordadas de alguma forma, e o resultado foi uma crescente rede de controles: organizações para revisão de padrões profissionais, grupos relacionados ao diagnóstico, restrições sobre o faturamento dos balanços financeiros, revisão da utilização dos serviços. De acordo com o sistema de assistência gerenciada que têm proliferado no esforço de controlar os custos, os médicos têm cada vez menos autonomia para agir em seu melhor julgamento sobre o que é melhor para o paciente. Dr. Maurice Sislen escreveu: "Um enorme e complexo sistema policial tomou o lugar do que costumava ser a responsabilidade do médico com seu paciente. Provavelmente, só um médico em atividade pode apreciar a magnitude do desperdício econômico e a degradação moral envolvidos". 
3) Uma terceira consequência importante da aplicação de um direito à assistência médica é o aumento dos encargos impostos aos consumidores - aqueles que originalmente não necessitavam de subsídios governamentais. Como contribuintes, é claro, eles têm que pagar por todos esses programas; esse é o primeiro ponto. Mas como consumidores, eles também são afetados por todas as distorções do mercado criadas por eles. Todos pagam preços mais elevados causados pela inflação da demanda por serviços médicos, juntamente com o aumento dos custos da regulação e burocracia. Como as pessoas estão alijados do esquema, são forçadas entrar nos sistemas de atenção gerenciados, que limitam as suas escolhas de médicos.

Cláusulas de seguro de saúde imposta pelos estados, aumentam o custo do seguro e desencorajam os empregadores de contratar determinados tipos de trabalhadores. Por exemplo, leis para "classificação comunitária" exigem que as empresas de seguros ofereçam apólices pelo mesmo preço para todas as pessoas, independentemente da idade, estilo de vida ou condição física. Uma vez que os riscos reais dependem desses fatores, o que a classificação comunitária significa é que os jovens pagam preços mais elevados para subsidiar os idosos, os hígidos para subsidiar os doentes, e aqueles com estilos de vida saudáveis subsidiam aqueles com hábitos prejudiciais. Como uma indicação do tipo de subsídio envolvido, a "classificação comunitária" em Nova York quase triplicou o custo do seguro para um homem de 30 anos de idade. 

4) Outra consequência é uma demanda crescente para a igualdade na assistência médica. Se algo é, afinal, um direito humano, então deve ser protegido de forma igual para todas as pessoas. Nosso sistema é baseado na ideia de igualdade perante a lei. Agora, se ligamos a esse sistema, a ideia adicional de que todos têm o direito legal a um bem como a assistência médica, a inferência natural é que todos devemos receber esse bem mais ou menos em pé de igualdade. Por exemplo, em uma pesquisa de 1989 para o Plano de Saúde Comunitária de Harvard, 90% dos entrevistados disseram que todos devem ter "o direito à melhor assistência médica possível - tão boa quanto a de um milionário". Aqui está outro exemplo, uma declaração de Horace Deets, diretor executivo da Associação Americana de Aposentados: "Finalmente, devemos reconhecer que a saúde não é uma mercadoria. Aqueles com mais recursos não deveriam ser capazes de pagar pelos serviços, enquanto aqueles com menos recursos permanecem sem atendimento. A saúde é um bem social que deve estar disponível para todas as pessoas sem levar em conta seus recursos". E o plano de Clinton é claramente igualitário. Um dos objetivos explícitos da proposta é eliminar o sistema de "dois níveis", no qual algumas pessoas são capazes de comprar mais ou melhor assistência médica que os outros.

5) A quinta consequência - a última que eu vou falar - é a coletivização da assistência médica e da própria saúde. Assim como uma economia mista trata riqueza como um bem coletivo, de que o governo está livre para dispor da forma que considerar conveniente "para o bem comum", um sistema de saúde coletivizada trata a saúde de seus membros como um bem coletivo. Ao abrigo deste regime, os médicos já não trabalham para os seus pacientes, com a responsabilidade primordial de agir em seus interesses. Em vez disso, os médicos são agentes da "sociedade" que devem decidir a quantidade e o tipo de assistência que oferecem a um paciente individual, tendo como referência as necessidades sociais, tais como a necessidade de controlar os custos no sistema como um todo. Na verdade, o indivíduo em um sistema desse tipo é instado a proteger sua própria saúde não por seu interesse próprio, mas porque ele tem uma responsabilidade com a sociedade de não impor muitos custos muito sobre ela.

Para resumir, então, um sistema político que tenta implementar o direito à assistência médica irá, necessariamente, envolver: transferência forçada de riqueza para pagar pelos programas, perda de liberdade para os prestadores de serviços de saúde, maiores preços e acesso mais restrito para todos os consumidores, uma tendência para a igualdade e a coletivização da assistência médica. Essas consequências não são acidentais. Eles seguem necessariamente da natureza do direito alegado. 

Plano Clinton 
O mesmo é verdadeiro para o plano da administração Clinton - verdadeiro em uma escala muito maior. Este plano será muito mais destrutivo para as nossas liberdades do que qualquer coisa que tenhamos vivido até agora.

O plano prevê uma nova prorrogação dos subsídios para assistência médica: para aqueles que estão atualmente sem cobertura, e para aqueles que têm cobertura de saúde menos extensa do que a proposta de pacote padrão de benefícios. De onde esses subsídios virão? O governo rejeitou o chamado "sistema de pagador único", ou seja, a medicina abertamente socializada, na qual o governo paga todas as contas, porque sabe que o governo não conseguiria pagar. Os aumentos de impostos necessários seriam politicamente impossíveis. Assim, o plano de Clinton apela para um sistema nominalmente privado, em que os regulamentos em vigor forçam algumas pessoas a subsidiar outras. 

No coração do plano estão as alianças para a saúde: monopólios protegidos pelo governo em cada área, que irão receber prêmios e negociar com os prestadores de assistência médica, para que ofereçam planos aceitáveis. Todo mundo que vive em uma determinada área será obrigado a obter seguro de saúde através de sua aliança local monopolista de saúde. Profissionais prestadores de assistência médica- autônomos, convênios e outros- não podem lidar diretamente com os indivíduos. Eles podem oferecer seus serviços apenas por meio de alianças de saúde, sujeitos às condições que impuserem.

Uma dessas condições é a garantia de acesso: todos os planos devem estar dispostos a aceitar qualquer indivíduo que o queiram; ninguém pode ser excluído por qualquer motivo. Outra condição é a classificação comunitária: o preço do plano deve ser o mesmo para todos. Agora pense sobre os efeitos que isso terá sobre os incentivos. Se eu sei que, quando eu ficar doente, vou ser capaz de me matricular em qualquer plano que eu quiser, por um preço que não reflete meu estado, então eu não tenho nenhuma razão para obter seguro de saúde quando estou bem. Se as pessoas são livres para escolher se querem ou não obter e pagar por uma apólice, as únicas pessoas que se inscreverão serão os doentes, e os custos irão subir "através do telhado". Assim, o sistema só funciona se todos forem obrigados a participar. É exatamente isso que a proposta exige, e ,embora os detalhes da proposta mudem, esse é um ponto que não pode mudar.

Nacionalmente, o sistema será regida por um Conselho Nacional de Saúde, cujas duas principais funções serão a de determinar o pacote padrão de benefícios mínimos e definir os orçamentos globais. Os orçamentos globais forçarão as alianças de saúde a impor controles de preços sobre os prestadores de assistência médica. E o pacote padrão de benefícios será estabelecido pelo lobby de grupos de interesse, já que todos os grupos no campo da saúde tentarão incluir os seus serviços no pacote. Por exemplo, a definição atual do pacote inclui saúde mental e aconselhamento sobre abuso de substâncias. Você pode sentir que você não precisa de seguro para estes serviços, mas você vai pagar por eles.

Em resumo, o plano vai exigir um grande exercício de coerção contra as pessoas, muito além de tudo que vimos até agora. O que me traz de volta para a questão fundamental.

Fundações morais 

Conforme todas as situações que descrevi, qualquer tentativa de implementar um "direito" à assistência médica, necessariamente, sacrifica nossos verdadeiros direitos de liberdade. Temos que escolher entre os direitos de liberdade e direitos sociais. Eles são logicamente incompatíveis. É porque acredito nos direitos de liberdade que digo que não há tal coisa como um direito à assistência médica. Então, eu quero terminar explicando porque acho que os direitos de liberdade são fundamentais, e tentar antecipar algumas das questões e objeções que se possam ter.

Os direitos de liberdade são fundamentais porque os indivíduos são fins em si mesmos. Nós não somos instrumentos da sociedade, ou bens da sociedade. E se formos fins em nós mesmos, temos o direito de ser fins para nós mesmos: para ter a nossa própria vida e felicidade como nossos mais altos valores, para não sermos sacrificados por nada.

Acho que muitas pessoas têm medo de fazer valer os seus direitos e interesses como indivíduos, de fazer valer esses direitos e interesses morais, porque têm medo de serem rotulados de egoístas. Por isso, é vital que nós façamos algumas distinções. O que estou defendendo não é egoísmo, no sentido convencional: a vaidosa, egocêntrica busca de prazer, riqueza, prestígio ou poder. A genuína felicidade resulta de uma vida de realizações produtivas, de relações estáveis com os amigos e família, da troca pacífica com os outros. A busca de nosso próprio interesse, neste sentido, exigem que se atue em conformidade com os padrões morais da racionalidade, responsabilidade, honestidade e justiça. Se entendermos o "self" e seus interesses nos termos destes valores, então estou feliz em reconhecer que estou advogando o egoísmo.

Temos que estabelecer as mesmas distinções quando pensamos sobre o altruísmo. Pois é, no final, o código moral do altruísmo que faz com que as pessoas pensam que a necessidade é o principal, que uma necessidade dá o direito à habilidade e ao esforço dos outros. No sentido convencional, o altruísmo significa bondade, generosidade, caridade, vontade de ajudar os outros. Estas certamente são virtudes, desde que não envolvam o sacrifício de outros valores, e enquanto eles forem uma questão de escolha pessoal, não um dever imposto de fora. Eu poderia ressaltar a este respeito o fato de que os médicos têm sido, historicamente, extremamente generosos com seu tempo.

Em um sentido mais filosófico, no entanto, o altruísmo é o princípio de que a necessidade de uma pessoa é uma reivindicação absoluta sobre os outros, que anula os seus interesses e direitos. Por exemplo, o Dr. Edmund Pellegrino afirmou, em um artigo no JAMA: "uma necessidade médica, por si só, constitui uma reivindicação moral sobre aqueles equipados para ajudar". Esse princípio tem sido muitas vezes afirmado por pensadores que se opõem ao individualismo e é a base para a doutrina de direitos sociais. É a razão pela qual os defensores da participação do governo na área da saúde podem ter como certo que as necessidades dos pacientes são primárias, e que todos os outros podem ser obrigados a atender essas necessidades. 

Nenhuma base racional para este princípio já foi oferecida. O fato é que nossas necessidades devem ser satisfeitas pela produção, não tomando dos outros. E a produção vem daqueles que assumem a responsabilidade por suas vidas, que aplicam as suas mentes para os desafios que enfrentamos na natureza e para encontrar novas maneiras de responder a esses desafios. E Ayn Rand disse de maneira melhor, em seu romance The Fountainhead : "Os homens foram ensinados que a maior virtude é não conquistar, mas distribuir. Contudo, não se pode dar aquilo que não foi criado. A criação vem antes da distribuição ou não haverá nada para distribuir. A necessidade do criador vem antes da necessidade de qualquer beneficiário possível". A necessidade do criador, em qualquer campo, é a liberdade de agir, a liberdade de dispor dos frutos de seu trabalho como ele escolher, a liberdade de interagir com os outros numa base voluntária, pelo comércio e troca mútua. 
Essa liberdade é uma necessidade vital, não só para médicos, mas para os pacientes. É somente em um contexto de liberdade que a necessidade de uma pessoa não é uma ameaça para os outros. É somente em um contexto de liberdade que a benevolência genuína entre os povos é possível. É apenas num contexto de liberdade que o progresso da medicina, que tem trazido muitos benefícios para todos nós, pode continuar.

Os problemas de nosso sistema atual foram causados pelo governo. Mais governo não é a solução. Mas é preciso opor-se à expansão do controle do governo, em princípio, rejeitando alegações espúrias de um "direito" à assistência médica, e insistindo em nossos direitos genuínos à vida, liberdade, propriedade e à busca da felicidade.